Caminhar à beira do precipício. / Caminar por el borde del acantilado.

(en español debajo)

--



Por Alexandre Fávero

Caminhar à beira do precipício.

O pensamento criativo e o ato de criar não funciona como um aplicativo. Não acontece como se fosse um grande insight onde as coisas se resolvem de maneira mágica. Muito pelo contrário. Além de imaginar, sonhar, sintetizar, também tem que ter a capacidade de organizar, tomar decisões, de concretizar e persistir, renovando na sensação de necessidade de usar uma linguagem para se expressar. Os processos criativos podem ser os mais simples e variados e geralmente não possuem padrão ou são de uma originalidade genial. Criar é um processo desconfortável. Se isso acontece, pode ser um bom sinal.

Ideias, palavras e desenhos só evoluem para um espetáculo se houver uma grande energia de movimento. O congelamento antecede a evolução e o movimento existe basicamente para diminuir a confusão. É preciso separar  o fundo nebuloso do indivíduo que ali está, ocupando um espaço. Precisa ver o personagem agindo. Ele quer  alguma coisa. É onde estou agora. Sozinho, como personagem de mim mesmo, ocupando uma sala de ensaio, aqui no Espaço de Residência Artística Vale Arvoredo, no extremo sul do Brasil.

Já tem alguns dias que a montagem de Fin está gerando concretude, se materializando e agora ela pede movimento. Tranquilidade para se deixar levar, afinal ainda estamos com dois núcleos criativos trabalhando e avançando de maneira separada. Na Argentina, a roteirista e atriz sombrista Sonia dá a atenção na análise do roteiro e na produção artística em Buenos Aires para começar os ensaios e experimentações. No Brasil, Alexandre já tem como dar para as figuras de papelão e as sombras uma forma, brincando com as deformações no espaço da escala cenográfica. As figuras, as luzes e o espaço cênico já ganha forma e movimento. As experimentações são com protótipos e como qualquer espetáculo de teatro, parte-se do vazio rumo ao desconhecido.

A montagem do espetáculo se estende por muitas áreas. Por isso o processo criativo de pré produção pesquisa e determina as referências plásticas e sonoras para construir um  material de cena mínimo que materialize e permita simulações, priorizando as ações elementares para contar a história do roteiro.

Nessa etapa foram realizados os seguintes movimentos, em ordem cronológica:

- esboço e construção de 4 personagens de papelão e arame;

- organização de um ambiente escuro e superfícies de projeção que sugiram o espaço de uma casa;

- teste de fontes de luz (halógenas e LED) fixas, móveis e retro projeções nesses espaços;

- ações mínimas que indiquem as situações do roteiro;

- registros em foto e vídeo para avaliações.


Levantada a cenografia e material de cena, parte-se para uma brincadeira leve e solta, mas com o rigor de um cosmonauta pilotando uma nave que é sugada em direção ao buraco negro. É um passo na direção da força da gravidade.

Essa etapa, quando começa,  pode ter energias e polaridades que impulsionam ou travam. Pode ter surpresas positivas e negativas. Pode nem começar ou também pode resolver uma mudança radical na cenografia, na atuação... no gesto. Acho que é por causa dessas variantes que essa parte da criação me interessa tanto e me faz lembrar a carta zero do tarot: O Louco.

Ele é retratado como um jovem que caminha despreocupadamente na beira de um precipício acompanhado de um pequeno cão ao seu lado, que lhe morde o calcanhar, puxando para um lugar seguro. Em uma mão o jovem leva uma rosa branca que simboliza a liberdade e os desejos comuns a qualquer ser mortal e na outra, uma pequena trouxa de pertences, que representa a dinâmica do aventureiro e o conjunto de conhecimentos inexplorados. Existem muitas versões de baralhos e representações do louco. Ele pode ser um mendigo, um bobo da corte, um bardo ou um coringa e o cão, que representa a consciência, pode ser um gato.

O bobo, que é leve e solto diante do perigo da queda, inspira o artista em ato criativo. Ambos buscam no espírito da inquietação a energia para experimentar. O sombrista precisa criar o seu abismo, segurar a sua flor e levar consigo a trouxa de viagem para fazer no espaço e no tempo da cena a sua aventura. Fazer força contrária ao do cãozinho das ideias e teorias para mover àquilo que está estagnado. O precipício que tem à frente é uma fronteira para continuar vivendo a vida, consciente que algo surpreendente pode acontecer a qualquer momento. O acaso irá se manifestar se formos na direção daquilo que está escondido.

Pode ser confuso, mas o espírito criativo do teatro de sombras pede e ensina a ter a pré disposição de ouvir e atender o chamado. Descobrir-se enquanto vai vendo onde está se metendo. O medo e a audácia de um aventureiro que joga sem deixar a paixão lhe tirar do caminho, mas garantindo que vai levar à um lugar melhor. Tem que ter sacrifícios e para ter resiliência. Uma dança no silêncio em um fluxo incontrolado.  

A autora Sonia e a assistente de direção Fabiana acompanham à distância, por meio de fotos e vídeos, essa busca de algo que quer respirar espontaneamente. A tecnologia do celular e da internet nos ajuda e permite registrar e compartilhar esses aprendizados e loucuras tornando-as reais.

A jornada é longa e apenas começou. Não haverá problema se o andar for leve em direção ao abismo, seguindo a rota onde a borboleta encanta e o cão avisa sobre os perigos do processo.

Amanhã é noite  de Lua Cheia no Vale Arvoredo.






Caminar por el borde del acantilado.

El pensamiento creativo y el acto de crear no funcionan como una aplicación movil. No sucede como si fuera una gran idea en la que las cosas se resuelven mágicamente. Al contrário. Además de imaginar, soñar, sintetizar, también se debe tener la capacidad de organizar, tomar decisiones, implementar y persistir, renovando el sentimiento de necesidad de utilizar un lenguaje para expresarse. Los procesos creativos pueden ser los más sencillos y variados y por lo general no tienen patrón o son de genial originalidad. Crear es un proceso incómodo. Si esto sucede, podría ser una buena señal.

Las ideas, las palabras y los dibujos solo se convierten en espectáculo si hay una gran energía de movimiento. La congelación es anterior a la evolución y el movimiento existe principalmente para disminuir la confusión. Es necesario separar el fondo nebuloso del individuo que está allí, ocupando un espacio. Tienes que ver al personaje en acción. Él quiere algo. Es donde estoy ahora. Solo, como un personaje de mí mismo, ocupando una sala de ensayo, aquí en el Espacio de Residencia Artística Vale Arvoredo, en el extremo sur de Brasil.

Hace unos días que el montaje de Fin va generando concreción, materializándose y ahora pide movimiento. Tranquilidad para dejarse llevar, al fin y al cabo aún tenemos dos centros creativos trabajando y avanzando por separado. En Argentina, la guionista y actriz de sombras Sonia se fija en el análisis de guiones y la producción artística en Buenos Aires para comenzar los ensayos y la experimentación. En Brasil, Alexandre ya es capaz de dar forma a las figuras de cartón y a las sombras, jugando con las deformaciones en el espacio de la escala escenográfica. Las figuras, las luces y el espacio escénico ya van tomando forma y movimiento. Los experimentos son con prototipos y como todo espectáculo teatral parte del vacío hacia lo desconocido.

El montaje del espectáculo abarca muchas áreas. Es por eso que el proceso creativo de preproducción investiga y determina las referencias plásticas y sonoras para construir un material mínimo de escena que se materializa y permite simulaciones, priorizando acciones elementales para contar la historia del guión.

En esta etapa se realizaron los siguientes movimientos, en orden cronológico:

- boceto y construcción de 4 personajes de cartón y alambre;

- organización de un ambiente oscuro y superficies de proyección que sugieran el espacio de una casa;

- ensayo de fuentes de luz fijas, móviles y de retroproyección (halógenas y LED) en estos espacios;

- acciones mínimas que indican las situaciones del guión;

- registros de fotos y videos para evaluaciones.


Una vez levantada la escenografía y el material escénico, partimos hacia un juego ligero y suelto, pero con el rigor de un cosmonauta pilotando una nave espacial que es succionada hacia el agujero negro. Es un paso en la dirección de la fuerza de gravedad.

Esta etapa, cuando empieza, puede tener energías y polaridades que empujan o sostienen. Puede tener sorpresas positivas y negativas. Puede que ni siquiera empiece o puede que también resuelva un cambio radical en la escenografía, en la interpretación... en el gesto. Creo que es por estas variantes que esta parte de la creación me interesa tanto y me recuerda a la carta cero del tarot: El Loco.

Se le representa como un joven que camina descuidadamente por el borde de un acantilado acompañado de un pequeño perro a su lado, que le muerde el talón para llevarlo a un lugar seguro. En una mano, el joven porta una rosa blanca que simboliza la libertad y los deseos comunes a todo ser mortal, y en la otra, un pequeño paquete de pertenencias, que representa la dinámica del aventurero y el conjunto de saberes inexplorados. Hay muchas versiones y representaciones del loco. Puede ser un mendigo, un bufón, un poeta o un bromista y el perro, que representa la conciencia, puede ser un gato.

El tonto, ligero y libre ante el peligro de caer, inspira al artista en un acto creativo. Ambos buscan en el espíritu de inquietud la energía para experimentar. El artista de la sombra necesita crear su abismo, sostener su flor y llevar consigo su bolsa de viaje para realizar su aventura en el espacio y el tiempo de la escena. Fuerza contra el perro de las ideas y teorías para mover lo estancado. El precipicio que se avecina es una frontera para seguir viviendo la vida, conscientes de que en cualquier momento puede ocurrir algo sorprendente. La oportunidad se manifestará si vamos en la dirección de lo oculto.

Puede resultar confuso, pero el espíritu creativo del teatro de sombras pide y enseña a estar dispuesto a escuchar y responder al llamado. Descúbrete mientras ves en lo que te estás metiendo. El miedo y la audacia de un aventurero que juega sin dejarse llevar por la pasión, pero asegurándose de que le llevará a un lugar mejor. Tienes que tener sacrificios y tener resiliencia. Una danza en el silencio en un fluir descontrolado.

La autora Sonia y la asistente de dirección Fabiana siguen desde la distancia, a través de fotos y videos, esta búsqueda de algo que quiera respirar espontáneamente. La tecnología del celular e internet nos ayuda y nos permite registrar y compartir estos aprendizajes y locuras haciéndolos realidad.

El camino es largo y acaba de empezar. No habrá problema si la caminata es ligera hacia el abismo, siguiendo la ruta donde la mariposa encanta y el perro advierte sobre los peligros del proceso.

Mañana es noche de Luna llena en el Vale de Arvoredo.







 

Comentarios

Entradas populares de este blog

El final de un blog, el inicio de Fin

ES HOY*

Los cimientos